Saiu do escritório por voltas das 20h. Exausta, desceu as escadas já sombrias e gastas dos passos apressados que nelas se haviam imposto durante todo um dia de agitadas correrias e prementes negócios e reuniões. Tailleur impecavelmente moldado às suas curvas, de corte elegante e recatado, deixando adivinhar o contorno de um corpo modestamente belo e desejado, peep toes de verniz preto, tacão moderadamente alto capaz de aguentar o peso dos dias e o refinado carisma de uma profissional, pasta de documentos debaixo do braço pois a reunião da manhã seguinte assim o exigia. Caminhava pesarosa, de ombros caídos, inundando a mente de perguntas triviais e suspirando de solidão. Tinha dias assim, dias em que a destreza em afastar o vazio se lhe escapava tão depressa quanto o fumo do cigarro se dissipava no ar, dias em que a urgência de se sentir completa se sobrepunha à postura firme e lhe emprestava um laivo de tristeza no olhar, dias em que o corpo que amava lhe faltava tanto que sentia uma pontada do lado esquerdo do peito, assim meio ao centro, ligeiramente inclinado. Nessas alturas, só pensava em adormecer rápido e acordar já no dia a seguir, onde o ciclo se repetiria sem grandes mudanças, mas as nuances e variáveis fariam toda a diferença no rosto que decidira usar aquela nova manhã. Antes de entrar no carro, sentiu o telemóvel vibrar no interior da sua mala. Vasculhou, como quem desbrava mato no meio do caos de bugigangas, óculos de sol, batons, agendas e blocos de notas, porta-chaves, esferográficas até encontrar o sofisticado objecto que piscava em sinal de sms. Em letras maiúsculas, escrevia sempre assim, leu a mensagem recebida: "VENS?" Sorriu intrigada, indagando-se do certeiro tiro vindo de onde menos esperava, um capítulo esquecido do livro das suas memórias e cujas palavras há muito não faziam as delícias da sua leitura. Sentou-se no banco do carro, fixando o telemóvel e tentando decidir se a sua vontade era a de fechar definitivamente aquele livro ou enganar a solidão com uma migalha de afecto transmutado em prazer, sexo, corpos alimentando-se mutuamente de entregas sem continuidade, de extravasares de recalcamentos num orgasmo redentor. Girou a chave na ignição, meteu a primeira e acelerou em direcção ao passado na esperança de confortar o presente sem olhar para o futuro. O beijo era soldado a desejo, as mãos pregos em estacas de luxúria, os braços másculos e desobedientes, abarcaram-na toda num abraço de prazer. O sexo húmido e viril, consubstanciado em reminiscências de entregas passadas, que nunca desapontava, cumpriu o seu dever. Veio-se. Sucumbiu ao prazer efémero, ao orgasmo almejado. Colmatou lacunas, originou outras tantas.
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» A Puta Emocional, Case Study
Saiu do escritório por voltas das 20h. Exausta, desceu as escadas já sombrias e gastas dos passos apressados que nelas se haviam imposto durante todo um dia de agitadas correrias e prementes negócios e reuniões. Tailleur impecavelmente moldado às suas curvas, de corte elegante e recatado, deixando adivinhar o contorno de um corpo modestamente belo e desejado, peep toes de verniz preto, tacão moderadamente alto capaz de aguentar o peso dos dias e o refinado carisma de uma profissional, pasta de documentos debaixo do braço pois a reunião da manhã seguinte assim o exigia. Caminhava pesarosa, de ombros caídos, inundando a mente de perguntas triviais e suspirando de solidão. Tinha dias assim, dias em que a destreza em afastar o vazio se lhe escapava tão depressa quanto o fumo do cigarro se dissipava no ar, dias em que a urgência de se sentir completa se sobrepunha à postura firme e lhe emprestava um laivo de tristeza no olhar, dias em que o corpo que amava lhe faltava tanto que sentia uma pontada do lado esquerdo do peito, assim meio ao centro, ligeiramente inclinado. Nessas alturas, só pensava em adormecer rápido e acordar já no dia a seguir, onde o ciclo se repetiria sem grandes mudanças, mas as nuances e variáveis fariam toda a diferença no rosto que decidira usar aquela nova manhã. Antes de entrar no carro, sentiu o telemóvel vibrar no interior da sua mala. Vasculhou, como quem desbrava mato no meio do caos de bugigangas, óculos de sol, batons, agendas e blocos de notas, porta-chaves, esferográficas até encontrar o sofisticado objecto que piscava em sinal de sms. Em letras maiúsculas, escrevia sempre assim, leu a mensagem recebida: "VENS?" Sorriu intrigada, indagando-se do certeiro tiro vindo de onde menos esperava, um capítulo esquecido do livro das suas memórias e cujas palavras há muito não faziam as delícias da sua leitura. Sentou-se no banco do carro, fixando o telemóvel e tentando decidir se a sua vontade era a de fechar definitivamente aquele livro ou enganar a solidão com uma migalha de afecto transmutado em prazer, sexo, corpos alimentando-se mutuamente de entregas sem continuidade, de extravasares de recalcamentos num orgasmo redentor. Girou a chave na ignição, meteu a primeira e acelerou em direcção ao passado na esperança de confortar o presente sem olhar para o futuro. O beijo era soldado a desejo, as mãos pregos em estacas de luxúria, os braços másculos e desobedientes, abarcaram-na toda num abraço de prazer. O sexo húmido e viril, consubstanciado em reminiscências de entregas passadas, que nunca desapontava, cumpriu o seu dever. Veio-se. Sucumbiu ao prazer efémero, ao orgasmo almejado. Colmatou lacunas, originou outras tantas.
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