Vivera incompleta a maior parte da sua vida. Tinha tudo aos pedaços e à vez, espalhados no tempo. Se tinha o corpo, não tinha o coração onde devia estar, se tinha o coração, dificilmente o corpo lhe fazia companhia. Raramente os conseguia reunir em simultâneo nas mesmas circunstâncias de tempo e lugar e, quando isso ocorria, era tão efémero e passageiro que não chegava a roçar a plenitude. Experimentara sucedâneos, entreténs, substitutos que lhe saciavam as necessidades momentaneamente, que lhe preenchiam espaços vazios como quem enche um balão, mas cedo acabava por murchar, por sucumbir à erosão do tempo e da capacidade de recuperar o fôlego. Vivera incompleta a maior parte da sua vida, experimentando o prazer mas despojado da paixão, experimentando o amor mas despojado do arrebatador orgasmo, da perfeita entrega e luxúria. E viveu, numa dormência, numa inércia, entre corpo e alma, entre prazer e coração desconhecendo, numa cegueira voluntária, que era possível reunir num só momento, num equilíbrio soberano, as mais procuradas e desejadas características tendentes à plenitude, desconhecendo por se recusar a acreditar, que era possível completar-se.
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