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(Ela) tem Caprichos Matinais XCVII

Se posso sonhar e imaginar, nos meus sonhos sou o que quero, tenho o que quero, faço o que quero. Posso estar a dormir, posso sonhar acordada, mas nos meus sonhos, invariavelmente, mando eu. Mesmo quando o sucumbir ao sono me eleva a torpeza e pareço comandada pelo subconsciente, sei que sou eu que sonho, detenho o papel principal. E é nos sonhos que se manifesta o mais puro querer, o mais puro desenlaçar dos entraves diários, dos desejos abafados, contidos, chutados para os recantos pérfidos da mente, para os recantos escondidos do coração. Se posso sonhar e imaginar, nos meus sonhos sou o que quero, tenho o que quero, faço o que quero. E ordeno. Ordeno que me chupes a dor que me atravessa qual veneno implacável da serpente do pecado. Ordeno que me lambas a ferida deixada aberta pela tua ausência. Ordeno que me sintas ondulando ao sabor do meu sabor, febril, quente. Ordeno que bebas o suor da minha doença, cada gota que escorre dos meus poros, cada gota salgada e doce que o meu corpo jorra profusamente ao mero toque da tua língua. Ordeno que me acordes da dormência em que me deixas, numa pausa excruciante e me faças soltar os demónios que tenho em mim, me faças pedir clemência. Ordeno-te que me estimules o corpo, penetrando-me de ti, acelerando-me o sexo, torcendo e retorcendo a língua sábia nos meus lábios sequiosos de prazer. Se posso sonhar e imaginar, nos meus sonhos sou o que quero, tenho o que quero, faço o que quero. E ordeno. E hoje ordeno-te que me faças vir, vir muito.

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