Há marcas que permanecem indeléveis, profundas, queimadas a ferro em brasa no corpo. Recordam-nos do que foi, do que fomos, do que fizemos, do que somos. São marcas invisíveis, transparecem apenas à luz dos momentos que fazemos questão de guardar no cofre inviolável da memória. E saboreamo-los com a certeza de os querer repetir ad eternum, naqueles precisos termos, naqueles precisos detalhes. Vislumbramos, aquele instante em que se cruzam olhares e se vê o desejo reflectido. Aquele instante em que invadidos por um querer incontornável e desesperante, sentimos o toque dos lábios que desejamos nos beije até à morte. Aquele instante em que manietados pelo conjuro da luxúria sentimos um corpo colar-se ao nosso e invadir-nos do seu calor. Aquele instante em que decidimos deixar-nos pairar na senda do acaso e simplesmente aproveitar o que temos à nossa frente. Aquele instante em que nos deixamos possuir, possuindo. Aquele momento em que encaixamos como peças de um puzzle perfeito e em que o prazer está em construí-lo e desmanchá-lo, desmanchando-nos em simultâneo. Há marcas que ficam, prazeres que se recordam, repetições que se querem, paixões que se revivem, amores que se condenam ao desejo, camas desfeitas e cheiros entranhados.
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