Delapidamos o corpo na entrega. Alheamos-nos dele, damo-lo livremente, oferecemo-lo para nele se consubstanciar o corpo de outrem, para nele se completar, completando-se. Reconhecemos o toque, aquele primeiro gesto magnético que nos empurra na direcção do que sabemos estar para vir. E por vezes basta um unir de lábios ao de leve, um olhar de desejo, o inspirar do aroma da pele, uma palavra sussurrada no timbre, no decibel certo. Por vezes chega para nos embrenhar a mente nas malhas intrincadas do desejo e não mais conseguirmos controlar os movimentos serpenteantes do corpo que se encontra despojado da razão. Decidimos reclamar o prazer na mesma medida que nos esforçamos para o dar em simultâneo. Beijamos, percorremos com os lábios e com a ponta dos dedos, aquela pele que nos incendeia, saboreamos com a boca, com o olhar, cada recanto proeminente, cada ponto nevrálgico em estímulos pensados e propositados. Lambemos os suculentos pedaços da carne que nos aquece, que nos faz rodopiar os sentidos em verdadeiros carrosséis de sensações. Chupamos, sugando do corpo uma fonte de vida, um crescente erguer erecto do membro que nos preenche, dos mamilos que se arrepiam, do clitóris que palpita incessantemente em dolorosos espasmos de prazer. Perdemo-nos para nos encontrarmos perdidos sem norte num abrigo de paixão. A bússula que nos costuma comandar, desorienta-se para não mais se conseguir encontrar. Sonhamos acordados, de corpo expectante, de peito aberto, de sorriso rasgado. Sucumbimos de braços caídos, exaustos, ofegantes, escorrendo prazer. Recuperamos as forças, doce e paulatinamente. Fitamos os olhos que nos fitam de volta e sabemos naquele instante, naquele eclipse de tempo, que a felicidade pode ser tão palpável. Que a plenitude pode ser tão real.
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