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(Ela) remembers...

A palete de cores com que se pinta a vida tem um leque variado. Misturadas, são ainda mais, mais que as cores do arco-íris, mais que as que conseguimos nomear e contar com os dedos das mãos que escondemos atrás das costas como crianças que se esqueceram da tabuada. Misturadas as cores, dispostas num desenho único, o quadro torna-se de uma beleza sublime, capaz de hipnotizar o mais incauto dos espectadores. Foi assim com eles. Pintaram Nova Iorque de cores que pouco combinavam com a hodierna cidade maçã, transportando-os para uma tela nova, uma tela de espelhos e lençóis desfeitos, de corpos acelerados pela ânsia de se tomarem, ao som de uma banda sonora original, feita de gemidos e sussurros, de gargalhadas e urros de prazer. Ele ansiava vê-las juntas, vê-las sucumbir à vontade de se terem, vê-las passar das palavras aos actos e, por isso, demorou-se em preparos, em detalhes. Subrepticiamente. E elas ansiavam por sentir o olhar dele cravado nos seus beijos, nas suas carícias, no massajar das suas línguas, nos beliscares dos mamilos, nas mãos exploradoras que aqueciam a pele e a líbido uma da outra. Perderam-se na novidade, nos sorrisos cúmplices, na descoberta de um corpo novo mas que sabiam no seu íntimo como tocar. Comprovaram, por si, que o que as unia transcendia a matéria mas se concretizava nela, na carne, na beleza do corpo que cobiçaram e desafiaram, que excitaram e provocaram. Uniram as bocas, num beijo único, num beijo que ditaria os seus desígnios doravante, um beijo que lhes selou os destinos e culminou num sorriso cúmplice, num assentir de vontades, numa declaração de intenções. Pouco a pouco, entregaram-se ao prazer que o prazer da outra lhe proporcionava. Ele mantinha-se à distância, observando cada gesto, cada avanço, cada alça de soutien retirada, cada cueca que deslizava lentamente na suavidade da pele arrepiada, da pele salgada e doce que contrastava e se completava em simultâneo, cada investida em direcção a uma entrega. Ouvia os sussuros que elas deixavam escapar, os gemeres cada vez mais intensos até que elas reclamaram a sua companhia. Envolveram-se num beijo a três, num encaixe de bocas, num misturar de sabores. Sentiu nelas os resquícios do que elas já haviam provado e cresceu. Queria provar por si e sentir-se invadido pelo gosto do prazer. Elas sabiam que era hora de tomar conta dele e de se repartirem, de se desdobrarem num triângulo funcional e de se partilharem solidariamente. Queriam-no. O seu membro depressa foi alcançado por duas bocas que haviam idealizado um beijo permeado pelo alvo da sua luxúria, um lamber que culminaria no entrelaçar das suas línguas, um símbolo da perfeição da sua postura perante a vida, perante o prazer, perante o gozar puro e pleno. Depressa trocaram de posições, a vontade de se multiplicarem e de serem omnipresentes acelerava-lhes os movimentos. Na boca dele surgiu outro sabor e o seu membro era agora manobrado por outra língua, por outras mãos. Os beijos intensos, longos, molhados, ensandecidos sucediam-se. O toque premente, ansioso, louco, permissivo. O desejo de entrar e de preencher, de sentir entrar e de se sentirem preenchidas tornava-se cada vez mais notório e os movimentos espelhavam a vontade que os consumia. Entrou nela, saiu dela, entrou nela, saiu dela. Entrou nela, saiu dela, entrou nela, saiu dela. Determinado, aplicado, investido em lhes dar o prazer que idealizavam não descansou enquanto não as sentiu gemer aquele gemido inconfundível, aquele grito sufocado, aquele espasmo surpreendentemente apaziguador. A disposição dos corpos ditou o orgasmo singular que cada um sentiu. Um clitóris lambido até à exaustão, um penetrar até à explosão, um grito de loucura em uníssono, uma tela composta de prazer. Transpuseram a linha traçada no chão e que lhes delineava os limites. Transpuseram a linha de forma voluntária, com o animus que vem de dentro, transpuseram a linha para reencontrar o eu, o verdadeiro, aquele que deixamos intocável sob o véu da veleidade e que tememos por causa dele ser olhados de soslaio. Transposta essa linha, cedo se aperceberam que alargaram o campo de aplicação, que os limites agora eram outros, que de uma forma irreversível haviam esticado  a corda e agora queriam mais. A busca do prazer tornara-se missão, projecto, jogo. E é neste jogo sem regras, apenas as que o corpo dita, que se perdem em idealismos, em vontades, em desejos a concretizar. É no jogo da partilha que sabem ganhar mais. Porque há partilhas que configuram verdadeiras multiplicações e não divisões. E fazendo as contas, o prazer repartido mostra-se simplesmente e substancialmente maior: O dobro, o triplo, o múltiplo. O denominador comum é sempre o prazer. Jaziam agora, ofegantes e suados, escorrendo resquícios de prazer, sinais de sexo e luxúria, certos de que o quadro que haviam composto era uma obra inacabada, em constante evolução.

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