A doença era corrosiva, degenerativa, conspurcadora e enfezada. Padecia daquele mal há mais tempo que o que sabia, preferiu ignorar os sintomas, deixou-os avançar e corrompê-la até serem impossíveis de negar. Saltavam à vista, a olho nu até, qualquer um que se desse ao trabalho de a fitar, de lhe olhar no fundo dos olhos, reparava que o que a habitava era uma sanguessuga difícil de escorraçar. A doença, como lhe chamavam, não tinha cura. Alimentava-se dela e ela dela, eram ambas insaciáveis, eram indissociáveis uma da outra. Era um vício, um querer desenfreado, um respirar frenético, um inspirar para se saciar, um desejo tão arrebatador que lhe brutalizava a mente, lhe instigava a vontade, lhe arrancava a roupa do corpo, lhe rasgava a pele para se sentir cheia, numa viagem psicadélica, num ascender eclético aos píncaros do prazer. Encontrava o auge tantas vezes quantas as que se deixava profanar. Fechava os olhos e deixava-se levar. Chorava e fodia, chorava enquanto fodia, chorava depois de foder. Deliciava-se com o sabor das lágrimas quando lhe pousavam na face e lhe escorriam rosto abaixo e as lambia, ávida por lhe tomar o gosto e se certificar de que não estava curada, de que o placebo não surtira efeito, de que o corpo ainda lhe pedia mais, de que ainda havia mais sabores para provar, corpos para experimentar, prazeres para sentir, desejos para saciar.
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